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Finitude da Humanidade: os limites da sustentabilidade?

Introdução
"Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma."
Antoine-Laurent de Lavoisier

O presente texto tenta traçar as características entre a visão finita dos recursos naturais, a segunda lei da termodinâmica e economia sob uma égide de sustentabilidade.
Para tanto faremos uma rápida definições de conceitos, como o de entropia e escassez de recursos. Feito isso iremos discorrer sobre as idéias de Nicholas Georgescu-Roegen que defende uma variante das leis da termodinâmica e combate a visão economicista que simplesmente reduz o problema socioambiental a meras equações matemáticas e não explica o comportamento e a dinâmica de um sistema complexo aberto.
Por fim, tentaremos apresentar possíveis soluções a esta questão do “fim dos tempos” e/ou “crise climática” que pode (ou deveria) causar o fim da humanidade.
Este paralelo nos leva a uma formalização de uma economia ecológica, (LIMA) ao tentar explicar o sistema econômico a partir de leis físicas – as da termodinâmica – tende a admitir que as possíveis soluções para a crise ambiental são fundamentalmente técnicas. Com isso, a presente abordagem exclui as relações sociais, todas orientadas pelos mais distintos interesses de grupos.
Premissas da economia clássica e seus equívocos
Uma das premissas da economia clássica, para não dizer a principal, é a chamada “mão invisível” do mercado. Este mecanismo permite ao modo de produção capitalista se autoregular todas as vezes que for necessário, pois não é necessária nenhuma intervenção dentro deste processo produtivo. A crença nesta autoregulação foi que o deu fôlego aos aspectos mercantis no fim século XVIII.
O problema aqui, na nossa visão é que, esta autoregulação das relações mercantis tende ao um alto grau de entropia (desorganização – mais adiante definiremos formalmente o que é entropia) justamente por conta de fatores de interesses econômicos. O que faz com que todo sistema entre em colapso e precise de intervenção para que volte ao seu estado inicial ou a algum outro estado que seja menos entrópico.
Outro ponto que a teoria clássica da economia peca é com relação aos recursos naturais. Para Adam Smith, por exemplo, a terra é o principal bem, e o principal fator de produção econômica. Desta forma, acredita-se que a manutenção da terra seja perpetuo e a mesma possa sempre produzir.
Hoje sabemos, por conta das questões ambientais e seus impactos, de que isso não é verdade, e mais ainda é uma questão complexa de se resolver. Segundo LIMA, a busca de lucro, acompanhada da redução de custos, significa declaração deliberada de guerra a todos os sistemas vivos que compõe a biosfera. Prova disso são os dados mundiais sobre as florestas, as quais, de acordo com o Worldwatch Institute, já perderam quase a metade de sua dimensão original, que era de 62 milhões de Km2. Atualmente, elas cobrem 33,3 milhões de Km2.
Neste sentido GEORGESCU-ROEGEN faz a seguinte crítica:
“Many writers, Who have made a vocation of ‘rescuces for the future’, have opined that thermodynamics cannot teach anything to an economist. Their claim reflects the principle, traditional in modern economics, of ignoring the scarcity of natural resource completely.”
Limites ao crescimento físico
"Para haver conversão contínua de calor em trabalho, um sistema deve realizar ciclos entre fontes quentes e frias, continuamente. Em cada ciclo, é retirada uma certa quantidade de calor da fonte quente (energia útil), que é parcialmente convertida em trabalho, sendo o restante rejeitado para a fonte fria (energia dissipada)"
Segunda Lei da Termodinâmica elaborada por Sadi Carnot em 1824

Para falarmos acerca dos limites físicos para o crescimento (seja ele econômico ou não) vamos lervar em consideração a seguinte afirmação: as plantas são os seres vivos que menos perdem energia sob a forma de calor: sua dispersão é de apenas 5% em média, enquanto o corpo humano perde cerca de 30%.
Isso nos faz pensar na afirmação de Lavoisier de que nada se cria, nada se destroi, tudo apenas se transforma. Sendo assim, se nós seres humanos temos uma perda de 30% de calor, preciamos criar mecanismos que nos provenha (input) meios para repor estes 30% perdidos. Todos sabemos, por exemplo, que isso pode ser feito através de alimentação. Ou seja, retiramos dos alimentos a parte que nos falta pela perda de calor (energia) – se bem que algumas pessoas acabam consumindo mais do que o necessário para suprir os 30% e acaba por armazenar esta “energia”.
Mas o nosso ponto aqui não é aquestão da perda da energia, dos 30%, mas sim, porque os perdemos? É ai que entra a tal da segunda lei da termodidânica e o conceito de entropia.
A definição de entropia que encontramos na Wikipedia é:
A entropia (do grego εντροπία, entropía) é uma grandeza termodinâmica geralmente associada ao grau de desordem. Ela mede a parte da energia que não pode ser transformada em trabalho. É uma função de estado cujo valor cresce durante um processo natural em um sistema isolado.
A entropia é a parte da energia que pode ser convertida em trabalho. Quando temos uma perda de 30% de calor (energia) significa que realizamos trabalho, ou ainda, sob a ótica de Lavoisier, não criamos nada, mas transformamos.
Com esta idéia em mente a economia tenta explicar a dinâmica do modo de produção. Do mesmo modo, as atividades econômicas/humanas importam energia do meio ambiente e vivem em função dela; nenhum sistema, ecológico, é autosuficiente ou autocontido; as espécies humanas e biolágicas precisam de suprimentos renovados de energia do meio ambiente interno e externo(MOTA).
Com isso sabemos que nós seres humanos somos os únicos habitantes do planeta que tem condições de transformar completamente o nosso habitat. Gosto de pensar que os outros animais também tem esta capacidade, mas simplesmente não o fazer porque para eles é totalmente mais prático e certo manter uma baixa entropia com o ambiente, ou seja, retirar dele somente o que se precisa. É aquela estória novamente de que predemos 30% de energia e a precisamos repor, mas alguns querer repor mais do que os 30% perdidos.
Georgescu-Roegen citado por MOTA afirma que “... cada vez que produzimos um Cadillac, o custo de fazermos isso é a diminuição no número de vidas no futuro”. Portanto, esse indicador de crescimento econômico é refletido por maio da abundância industrial como uma benção para a geração presente, mas é definitivamente contrário ao interesse da espécie humana (MOTA).
Neste ponto é que se começa a questionar a questão da finitude dos recursos e se eles podem ser ou não efetivamente renováveis. É onde a questão do desenvolvimento sustentável começa a ter peso.
Para Marx a humanidade nunca se propõe (cria) problemas que ela já não possa resolver. Mas a questão da entropia é uma questão que deixa claro que o sentido do tempo (neste caso do desenvolvimento econômico) só tem um sentido e que para manter este padrão de crescimento, deve-se haver um input de energia neste sistema, e este input é feito a partir dos recursos naturais. Mas como na natureza nada se perde nada se cria, tudo apenas se transforma, o resultado desta troca (segunda lei da termodinâmica) resulta em energia “suja”, ou seja, poluição. A poluição é um tipo de energia altamente entrópica e que não se consegue aproveitar. Voltando ao nosso exemplo de que o ser humano perde 30% de sua energia e que para repo-la ele deve se alimentar, a questão é esta alimentação é uma energia de alta ou baixa entropia? Se ela for de alta entropia necessariamente ela é uma energia “suja” (poluição) – ou gerou poluição – ou é uma energia de baixa entropia, saudável, uma alimentaçõa que possamos consumir e que irá repor o que “perdemos” para o meio através do trabalho.
Existem os que defendem que esta questão da renovação das fontes de energia depende dos avanços tecnológicos, que estes se encarregarão de encontrar uma solução para que a questão seja novamente equilibrada (mão invisível?).
Neste ponto temos algumas argumentações de GEORGESCU-ROEGEN:
“The present agitation about alternative technologies – that is, alternative to that prevailing now – knows no skeptical restraints and no literary limits. The sin of thes preoccupations is, time and again, their ignorance of thermodynamical principles. An immense effort has been devoted to distill and redistill recipes known for ages with the intention to convince us that any of them waits around the corner with the solution for the impending crisis of oil and gas.”
“Naturally, since no recipe exists to create energy or matter any viable technology needs a continuos supply of environmental low entropy. For this it must include some recipe (or a group of recipes) that converts the environmental energy and matter into energy and matter at our disposal for other activities. Such a recipe must satisfy a very strict condition, to which, for a reason, to become clear presently, I propose to refer as Promethean.”
“During the new technological era, supported primarily by fuel from wood, new recipes of all sorts were invented at an increasing pace. Finally, the ensuing development depleted its own support just as rapidly. Forests began disappearing so fast that by the seventeenth century conservation measures were introduced almost everywhere in Western Europe. It was only the normal outcome of any Promethean gift – to speed up the depletion of its own supporting fuel. The crisis was analogous in toto to the present one.
Possíveis soluções para os problemas identificados

Diante deste quadro o que se apregoa neste momento é que se deve preservar os recursos naturais ou ainda taxar os que geram alta entropia (energia “suja” – poluição). Percebe-se que o raciocínio tende a reduzir as múltiplas dimensões dos recursos naturais a uma única dimensão: a do mercado (MOTA).
Uma solução definitiva para todas estas questões não é concebível no modo de produção em que estamos inseridos hoje. Valores culturais, religiosos, sociais, econômicos, criaram um padrão de “vida” que não é mais uma questão de algumas nações quererem a mudança, mas sim de cada indivíduo abrir mão do seu padrão (seja ela qual for – lembra da questão daqueles que precisam dos 30% de reposição de energia, mas sempre querem armazenar um pouco mais?).
Não se tatá aqui de uma questão simplesmente das leis da física – Einstein citado por GEORGESCU-ROEGEN disse: “ is the only physical theory of universal content [that] will never be overthrown” – mas uma questão de toda raça humana.
Solução? Bom, do ponto de vista de ciclo de vida do planeta parece que ele já está se remoldando para um novo ciclo, daí as mudançcas climáticas, terremotos etc, que veem acontecendo com ais frequencia. Então a solução que ao meu ver deveria caber aos cerca de 6 bilhões de serers humanos que estão neste planeta seria a de mudar totalmente os seus valores e seu modo de produção.
Isso me fez lembrar uma cena do filme Jornada nas Estrelas (a Nova Geração) Primeiro Contato, onde o capitão Picard volta no tempo para mais uma aventura, e junto com ele está uma pessoa típica do século XXI, que fica maravilhada com a Enterprise e comenta: nossa, vocês devem ter gasto muito dilheiro para fazer esta nave. No que o capitão Picard responde: no futuro não somos mais movidos por estes tipos de valores.
Conclusão

A minha conclusão é a de que não consigo chegar a nenhuma até este momento.
“My proposal also brings into evidence the most tragic problem for humans. To economize energy (or to conserve it, as is the usual term) is not a task for one nation or even for some nations. The task requires the cooperation of all nations, a point which reveals that there is a far more dreadful crisis than that of energy, namely, the crisis of the wisdom of homo sapiens sapiens.” (GEORGESCU-ROEGEN)
A visão de Georgescu-Roegen não é pessimista. Ela é pautada numa racionalidade que põe em cheque justamente a capacidade do homo sapiens ser realmente sapiens.
Referências bibliográficas

MOTA, José Aroudo, Pesquisador do IPEA, Enfoques Sistêmicos e Termodinâmicos dos Recursos Naturais, em www.transportes.gov.br/CPMA/ESTRecursosNaturais.doc

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Meio ambiente - Rio-92. Disponível em: . Acesso em: 28 jul. 2005.

LIMA, José Edmilson de Souza, Economia ambiental, ecológica e marxista versus recursos naturais, Revista FAE, Curitiba, v.7, n.1, p. 119-127, jan/jun. 2004

GEORGESCU-ROEGEN, The Entropy Law and the Economic Process in Retrospect, Eastern Economic Journal, volume XII. n.1, January-March 1986.

GOWDY, John e MESNER, Susan, The Evolution of Georgescu-Roegen´s Bioeconomics, Review of Social Economy, vol. LVI, n.2, Summer 1998.

Comentários

Agnaldo disse…
Gostei da citação do Capitão Picard de Jornada nas Estrelas!
MELHOR COMPRA disse…
Excelente post. Só senti falta da sua conclusão. Acho que toda essa pesquisa merecia a opinião do autor.
Carlos Santiago disse…
Valeu seu comentário Márcio.
Vc tem razão o texto merece alguns acréscimos e uma conclusão mais elaborada.
Valeu a dica.

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