Neste nosso mundo em constante transformação muito se tem
dito acerca dos diversos sistemas sociais, políticos e de direitos e suas inter-relações
assumindo o que se costuma denominar de pluralismo cultural.
Foi pesquisando sobre estes sistemas que acabei encontrando
uma obra que me chamou a atenção, numa primeira instância, por seu título e
depois por seu conteúdo.
Estou falando do livro Direitos Fundamentais 2.0[1]
editado pela conhecida, entre nós, editora portuguesa Almedina. O livro foi uma
genial iniciativa do GRAL – Gabinete para Resolução Alternativa de Litígios,
anexo do Ministério da Justiça Português.
O título chama a atenção, pois da a entender que se trataria
de Direitos Fundamentais voltados a alguma coisa que diga respeito às redes
sociais ou mesmo à web 2.0. Ledo engano. O originalíssimo título é para fugir
aos já consagrados rótulos que envolvem as discussões acerca dos Direitos
Fundamentais, tais como direitos de primeira ou segunda geração ou ainda
dimensões dos Direitos Fundamentais. Direitos Fundamentais 2.0 é para mostrar que
houve uma superação da discussão acerca de Direitos Fundamentais. E é ai que
reside o grande “charme” e originalidade da obra. Seu conteúdo.
A proposta do GRAL foi gerar um conteúdo que discutisse os principais
artigos sobre Direitos Fundamentais da Constituição Portuguesa, porém não por especialistas
e acadêmicos do assunto. Não por ministros de cortes constitucionais que,
enclausurados em suas torres de cristal, definem termos e interpretações que a
cada passo dado no sentido da efetivação dos Direitos se cria jogos de
linguagens que deixaria até Wittgeisntein[2]
perplexo.
Não. A originalidade da obra está em reunir opiniões de
membros da comunidade portuguesa, artistas, cantores, atletas, professores,
jornalistas, cientistas e jovens, e ouvir deles o que eles acreditam que sejam
os significados, em suas vidas e na sua comunidade, dos artigos constitucionais
que lhes fora proposto “comentar”.
O resultado disso é uma obra fantástica. Clara. Honesta. Sem
os rebuscamentos e floreamentos (muitas vezes travestidos de cientificidade)
dos ditos especialistas do assunto. Certamente, em sua grande, parte não são os
ministros do supremo, que, como oráculos, ditam os destinos de quem os
consulta.
Claro, que a obra pode estar acometida de uma série de vícios
de linguagem e de interpretação que poderiam fazer cair os cabelos de qualquer
doutor no assunto. Não importa. Mesmo assim é a voz, é a percepção de quem
deseja que o que foi estabelecido constitucionalmente possa ser realizado.
É uma obra curta (pouco mais de 100 páginas) e que vale
muito a pena ser lida e sentida por todos os operadores de direito e mesmo os
que não fazem do Direito sua profissão, mas desejam que o Direito faça da sua
profissão algo digno da pessoa humana.
Minha idéia é a de poder fazer o mesmo tipo de ensaio aqui
no Brasil, talvez com o desafio maior de colher nas redes socais o que se
interpreta e o que se comenta sobre os nossos Direitos Fundamentais.
Pois como interpretou Clara de Sousa[3]
no artigo 71 do CRP (Constiruição da República Portuguesa):
“ O texto da Constituição afigura-se-me assim como um bom
romance. Está bem escrito, o enredo é interessante, as personagens, os lugares,
as ações...
Tudo faz sentido – mas é pura ficção.”[4]
Aos que desejarem eu tenho o livro em PDF e posso repassar,
basta solicitar.
[1]
Direitos Fundamentais 2.0. Organização Helena Alves – GRAL. Almedina Editores.
Coimbra, 2010.
[2] Muitos
o consideram o filósofo mais importante do século passado. O único livro de
filosofia que publicou em vida, o Tractatus Logico-Philosophicus, de 1922,
exerceu profunda influência no desenvolvimento do positivismo lógico. Mais
tarde, as idéias por ele formuladas a partir de 1930 e difundidas em Cambridge
e Oxford impulsionaram ainda outro movimento filosófico, a chamada "filosofia
da linguagem comum".
[3] É
jornalista profissional desde 1992. É licenciada em Línguas e Literaturas
Modernas.
[4] p. 95
Comentários
Portanto o tema me interesse e ler a obra seria muito oportuno para meu estudo.
Meu e-mail: marcoantonio.mouradossantos@gmail.com
Atenciosamentem
Marco Santos
Já despachei pro seu mail o livro em PDF. Espero que vc curta a leitura.
Também estou com um Xmind (mapa mental) de um seminário sobre Direitos Fundamentais que terei que apresentar nesta próxima sexta (23/11). Se tiver interesse em dar uma olhada e contribuir eu agradeço.
Abraço